
Os almanaques eram publicações anuais que traziam de tudo, das fases da lua até remédio para unha encravada. Isto aqui é uma versão em pílulas semanais. Nesta edição: uma breve história de explosões no Brasil, uma longa história de explosões no espaço, as refregas de celebridades, a piada mortal, a pipoca fundamental, as mulheres de Ceschiatti, e as bombas narcísicas. Em tempo: devido aos eventos voláteis desta semana, a retrospectiva de aniversário deste boletim foi adiada para a próxima.
Uma estrela costuma virar supernova, isto é, explodir numa galáxia de tamanho médio como a nossa Via Láctea a cada século. Estrelas gigantes, daquelas que emitem uma enorme quantidade de raios gama, são outra história: esses eventos de supernova geralmente ocorrem a cada um milhão de anos.
De qualquer forma, após o colapso, estrelas costumam virar corpos incrivelmente densos, como uma estrela de nêutrons ou um buraco negro.
Era a madrugada da véspera de Natal de 2022. Dois homens entraram num carro e deixaram o acampamento pró-Jair Bolsonaro na frente do QG do Exército, na capital federal. Rumaram para o Aeroporto Internacional de Brasília, cheio de pessoas com as festas de fim de ano. Ali nas redondezas, depositaram caixa com artefato explosivo na traseira de um caminhão-tanque cheio de combustível para aviões. Às cinco da manhã, o dono do caminhão chegou para levar sua carga até um posto próximo. Na vistoria de praxe, encontrou a caixa, colocou-a no chão, e tocou o veículo para o seu destino, onde avisou sobre a bomba.
Era a noite de 31 de abril de 1981 e o centro de convenções Riocentro recebia estrelas como Ivan Lins e Milton Nascimento para festejar o Primeiro de Maio. Duas bombas explodiram enquanto 20 mil pessoas se reuniam lá dentro para o show. A segunda bomba, na caixa de força da estação elétrica, falhou em cortar a luz e provocar a tragédia de uma multidão em pânico no escuro. A primeira já havia estourado no banco de trás de um Puma, no colo de um militar lotado no Departamento de Operações Internas - Centro de Operações para a Defesa Interna (o infame DOI-Codi).
Era a noite de 13 de novembro de 2024 e mais um expediente chegava ao fim no Supremo Tribunal Federal. Chovia forte quando se ouviram duas grandes explosões. A primeira delas partiu de um carro no estacionamento do Anexo IV da Câmara dos Deputados. Ninguém se feriu. A segunda veio menos de um minuto depois, na frente do STF, quando o proprietário do carro, um ex-candidato anticomunista a vereador pelo PL na cidade de Rio do Sul (SC), deitou-se em frente à estátua da Justiça e acionou outro dispositivo explosivo preso ao próprio corpo.
O que todos esses homens têm em comum, além das bombas e da ideologia de extrema-direita, são nomes que começam com a letra W. Dois dos autores do atentado abortado ao aeroporto eram George Washington e Wellington; um dos militates do Riocentro chamava-se Wilson e o que morreu era conhecido como Wagner; e o homem-bomba do STF atendia por Francisco Wanderley. De acordo com a numerologia, isto significa uma vida vivida com senso de propósito, criatividade, imaginação, curiosidade, intelecto, e diplomacia. Seja como for, os eventos que os atiraram à posteridade todos fracassaram.
Separadas no pedestal: a empertigada Justiça de Alfredo Ceschiatti, na frente do Palácio do STF, em Brasília, e a relaxada obra de Ceschiatti em exibição na Estação do Metrô da Praça da Sé, em São Paulo.


Na casa de Francisco Wanderley foi encontrada uma mensagem de apoio a Débora Rodrigues, que pichou Justiça de batom com as palavras “Perdeu, mané” durante os ataques de 8 de janeiro de 2023. Rodrigues está presa, Wanderley está morto, e Justiça continua onde estava.
Em 1988, a graphic novel A Piada Mortal, escrita por Alan Moore e desenhada por Brian Bolland, foi uma das obras que iniciaram uma guinada sombria dos quadrinhos de super-herói. Nela, o vilão Coringa torna a vida do Comissário Gordon e de sua filha, Barbara, num pesadelo com sérias consequências. O final ambíguo, abaixo, deixa à imaginação do leitor se o Batman mata o Coringa ou não.

Para fazer uma pipoca na panela sem queimar, bem estourada, no ponto, coloque o milho de molho na água por dez minutos. Seque e esquente uma panela funda com azeite ou óleo, jogue dentro 3 grãos de milho e espere o último deles pipocar. Retire a panela do fogo e derrame o resto do milho para descansar ali por uns 30 segundos. Agora, retorne ao fogo e bom apetite.
No microondas, o mais recomendado é potência máxima por até 5 minutos.
As lutas de boxe ou MMA entre celebridades, como a do campeão aposentado Mike Tyson contra o influenciador de YouTube Jake Paul, não são coisa nova. Em 1979, o lendário Muhammad Ali topou subir no ringue contra o jogador de futebol americano Lyle Alzado. Ali já estava se aposentando, fora de forma, quando Alzado investiu tudo o que tinha e não tinha para o evento num estádio, o Mile High de Denver. Foi um fracasso.
Em 2009, a celebridade Kim Kardashian desafiou a atriz russa Tamara Frapasella para uma luta de boxe de caridade — Kardashian treinou por três dias e saiu com um olho roxo.
A coisa só estourou mesmo em 2018, quando os YouTubers rivais KSI e Joe Weller se enfrentaram na Box Arena de Londres.
No Brasil, o humorista Whindersson Nunes também tenta a sorte no boxe, mas ainda não se deu bem como Jake Paul.
Em outubro, nenhum outro país do mundo recebeu mais ameaças falsas de bomba em aviões do que a Índia. Muitas delas vieram do X, a rede social de extrema-direita do bilionário Elon Musk. Até agora, as autoridades não têm explicação para essa onda de trotes, que foi embora tão bruscamente quanto veio.
Musk criou Grok, o seu próprio modelo de inteligência artificial porque achava que os modelos de outras empresas não diziam a verdade — ele os chamava de IA woke (gíria derrogatória para progressistas). Recentemente, o Grok explicou a um usuário que Musk é grande responsável pela divulgação de desinformação na rede X. O vaidoso bilionário não se manifestou sobre o episódio.
O diretor de cinema Ridley Scott é conhecido por não dar a mínima para a exatidão histórica num meio já conhecido por não levar veracidade histórica muito a sério. Ou assim parece. Após sofrer críticas pela libertinagem com os fatos em Napoleão (2023), Sir Ridley explodiu. Em público, desdenhou com um “Vá cuidar da sua vida!”. Em privado, aparentemente sentiu tanto o baque que proibiu a presença de qualquer consultor histórico nos sets de filmagens de Gladiador 2 (2024).

Os narcisistas não gostam de dever nada a ninguém, não importa quão útil essa pessoa tenha sido.
O professor e jornalista John Naughton, especulando que Elon Musk, apoiador ferrenho de Donald Trump, pode ter o mesmo destino que Thomas Cromwell, fiel conselheiro do rei inglês Henrique VIII — embora não haja risco de Musk perder a cabeça.
Quanto mais pobre, mais eu quero que se exploda.
O inimpoluto deputado Justo Veríssimo, criação do humorista Chico Anysio inspirada em um certo arquétipo político. As formas orais “exploda” e “explodo” ficaram tão populares que o próprio dicionário Houaiss hoje as consagrou na conjugação de explodir, um verbo outrora considerado defectivo (sem todas as conjugações).