Os almanaques eram publicações anuais que traziam de tudo, das fases da lua até remédio para unha encravada. Isto aqui é uma versão em pílulas semanais. Nesta edição: a poderosa Leny, o outrora poderoso Aral, uma ajuda às abelhas, uma voz para a Voyager, sapos e desertos.
Ela era platinada, ela era diva, ela tinha voz, ela era internacional, ela era brasileira. Na década de 50, ela era Leny Eversong.
Hilda Campos Soares da Silva adotou o nome artístico em 1935, quando estreou na Rádio Atlântica de Santos. Só estouraria mesmo em 1955, na Rádio Mundial do Rio de Janeiro, cantando especialmente em inglês. O vídeo acima foi de sua apresentação no The Ed Sullivan Show, campeão de audiência da TV dos EUA, em 1957. Elvis Presley estava nos bastidores esperando a liberação pela justiça de sua própria performance, censurada por causa de seu rebolado indecoroso. Ao assistir a Leny, encantou-se, recordou-se da própria mãe, e cedeu à cantora parte de seu espaço para que ela desse um bis.
Daí, seu vozeirão ganhou o mundo mas ela não quis se estabelecer no exterior. Voltou ao Brasil, onde elogiavam sua voz mas criticavam seu repertório estrangeiro e faziam troça de seu físico avantajado (por um desequilíbrio hormonal). Foi dona de Babalu antes de Ângela Maria, fez dueto com Cauby Peixoto, e navegou entre vários gêneros. Em 1973, plena ditadura militar, seu marido saiu de casa e nunca mais voltou. Havia sido morto pelo regime, confundido com um sindicalista. Como ele estava oficialmente “desaparecido”, Leny não conseguiu comprovar o óbito por um bom tempo e teve as economias de vida toda bloqueadas. Esse duplo choque mais complicações de saúde a afastariam dos palcos e, injustamente, da memória musical brasileira.
O Mar de Aral sumiu. Em 60 anos, aquele que já foi o quarto maior lago de água salgada do mundo encolheu até um quase nada graças ao uso intensivo para irrigação de monocultura de algodão e infraestrutura precária, cortesia do modelo econômico soviético. Era principal fonte de renda de populações da Ásia Central, mas especialmente do Uzbequistão e do Cazaquistão. Sua história é a de um efeito cascata, que serve de advertência a todo ecossistema: com a exploração desenfreada, já tinha diminuído pela metade na década de 60. À medida que o Aral sumia, a temperatura na região subia, os glaciares em volta foram derretendo, e com eles a fonte de água dos rios que o abasteciam. A década de 80 foi seu momento mais crítico. Hoje, são dois: o Aral do Norte, que se mantém aos trancos com uma barragem (construída em 2005 pelo Cazaquistão com ajuda do Banco Mundial); e o do Sul ou o resto, fracionado em vários corpos minúsculos d’água.
Climas desérticos são aqueles com quantidade de chuvas inferior a 250mm por ano. Teoricamente, o Brasil não tem regiões nestas condições — o semiárido registra entre 300 e 800 mm de chuvas por ano. Porém, pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas verificam um processo de desertificação avançado em várias áreas do semiárido nordestino. Segundo medições entre 2012 e 2019, os cinco estados mais afetados são: Alagoas (32,8% de seu território), Paraíba (27,7%), Rio Grande do Norte (27,6%), Pernambuco (20,8%), e Bahia (16,3%).
Você também pode ajudar a evitar a extinção de abelhas! Dê preferência à flora nativa na hora de plantar no seu jardim, no seu canteiro, no seu quintal, na sua rua. Elas são atraídas especialmente pelas cores amarela, branca, e pelo espectro entre o azul e o violeta. E você não precisa ter um apiário para instalar entre suas plantas um bebedouro artificial para zangões cansados de sua jornada.
Separados no berço: o sapinho-pulga Brachycephalus dacnis, com seus 7 milímetros encontrados por pesquisadores da Unicamp no interior de São Paulo, e Moo Deng, o célebre filhote de hipopótamo-pigmeu no zoológico tailandês Khan Kheow Open.


O Brachycephalus dacnis é apenas o segundo menor vertebrado conhecido no mundo. O primeiro também é brasileiro: uma espécie de sapinho-pulga do sul da Bahia, o Brachycephalus pulex, com 6,45mm, descoberto em 2011. O que chama a atenção nessas espécies é um processo evolutivo de miniaturização. Ao longo do tempo, ossos se fundiram, e eles foram se livrando de dígitos e outros detalhes anatômicos — uma otimização de recursos para fazer inveja a qualquer ministro da fazenda. O pingo-de-ouro (Brachycephalus pitanga) chegou a extremos dignos de um estúdio de 15m2: sem tímpano nem ossículos da orelha média, são surdos à própria voz.

Sumiu, mas deu-se um jeitinho. Em meados de outubro de 2024, depois de uma falha na transmissão de dados da sonda Voyager 1, que está a 24 bilhões de quilômetros da Terra, a equipe de comunicação da NASA teve que apelar para um rádio transmissor da nave que não era usado desde 1981. Funcionou.
É estranho sem dúvida, mas ninguém te conhece quando você tá na pior.
Jimmie Cox, na letra de Nobody Knows You When You’re Down and Out.
Nunca desista do seu sonho. Se acabou em uma padaria, procure em outra.
Máxima de Apparício Torelly, o Barão de Itararé.