Os almanaques eram publicações anuais que traziam de tudo, das fases da lua até remédio para unha encravada. Isto aqui é uma versão em pílulas semanais. Nesta edição: o verme elegante, os líderes mundiais que escondem o atestado, o terror que mata de verdade, a limpeza da roupa de cama, o mapa 4K do universo, as quedas dos portugueses, e outras coisas que só vendo.
A inteligência artificial (IA) pode ter levado dois prêmios Nobel em 2024, mas vai precisar comer muito arroz com feijão algorítmico para igualar o recorde de um nematódeo de cerca de 1 milímetro de comprimento e capaz de comportamentos complexos. O Caenorhabditis elegans, ou C. elegans para os íntimos, já ajudou cientistas a entender porque células saudáveis podem se matar (Nobel de Medicina de 2002), e como genes podem ser controlados — e até silenciados — dentro de células (Medicina de 2006). Foi transformando o C. elegans numa lanterna viva, graças a uma proteína fluorescente, que pesquisadores conseguiram ver a atividade genética dentro de uma célula (Química de 2008). Em todas essas ocasiões, os ganhadores agradeceram ao verme, e não foi diferente em 2024, quando Gary Ruvkun chamou-o de “durão” na coletiva de imprensa após receber o Nobel de Medicina com Victor Ambros pela descoberta do microRNA.
Quatro, inteligência artificial, quatro. E contando: pesquisadores formados pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) se inspiraram no sistema nervoso do C. elegans para criar o que chamam de uma rede neural líquida, capaz de resolver uma imensidade de equações interligadas — como neurônios. Se conseguirem reproduzir este comportamento em grande escala, tornarão as redes de IA mais flexíveis, rápidas, e muito importante, com muito menor consumo de energia. Sim, o C. elegans pode estar vindo abocanhar um Nobel da IA!
“Por que líderes africanos mantêm sigilo sobre sua saúde?”, pergunta matéria da BBC. Abaixo, lista não-exaustiva de líderes — africanos apenas de coração — que mantiveram sigilo sobre sua saúde.
EUA: Grover Cleveland (tumor na boca), Woodrow Wilson (sequela de derrame), Ike Eisenhower (infarto), John F. Kennedy (doença de Addison), Ronald Reagan (Alzheimer), Joe Biden (gripe, dizem).
Venezuela: Hugo Chávez (câncer na região pélvica).
União Soviética: Josef Stálin (uma série de derrames — ou um infarto grave).
Brasil: Tancredo Neves (tumor no intestino).
França: François Mitterand (câncer na próstata).
A pólio se alastra mais uma vez pelo Paquistão, mas o Egito tornou-se o 44º país a erradicar a malária, a doença “que afligiu os faraós”.
E Ruanda conteve uma epidemia da doença de Marburg na marra, com profissionais fazendo isolamento de pacientes, rastreando contatos, e testando remédios e vacinas. Conseguiram até manter a taxa de mortalidade bem abaixo dos 88% de que esse víríus é capaz .
Em 2024, Israel matou dois líderes do Hamas, de Gaza, (Ismail Haniyeh e Yahya Sinwar), e dois líderes do Hezbollah, do Líbano (Hassan Nasrallah e Hashem Safieddine). Israel havia matado o predecessor de Nasrallah, Abbas al-Musawi, em 1982. Em 2004, assassinou o mentor espiritual de Sinwar, o xeique islâmico fundamentalista Ahmed Yassin. Em 1972, mataram Ghassan Kanafani, líder da Frente Popular pela Liberação da Palestina — o Hamas foi fundado oficialmente em 1987. E assim até lá atrás na década de 50. Nenhuma dessas mortes pôs fim a conflito algum.
A portas abertas, o alto escalão da Coreia do Norte se refere ao Japão como “o inimigo de cem anos”. A portas fechadas, referem-se à aliada China como “o inimigo de mil anos”.
Separados no berço: Mike Jeffries, o ex-CEO da marca de roupas Abercrombie & Fitch acusado de tráfico sexual, e o astronauta Victor Carroon (Richard Wordsworth), em processo de mutação para um perigoso alienígena na versão de cinema de Terror que Mata (The Quartermass Xperiment/The Creeping Unknown, 1955), de Val Guest.


Terror que Mata, um clássico do gênero, tem também a dúbia honraria de ter matado um garoto de nove anos de medo num cinema de Chicago, EUA, em 1956. Motivado pelo infarto do garoto, o médico-legista local fez campanha pelo fim das sessões duplas (o público pagava para assistir a dois filmes diferentes) de terror.
Com que frequência você deve lavar a roupa suja (de cama)? Para a Sociedade Brasileira de Dermatologia, o ideal é mudar lençóis e fronhas uma vez por semana para evitar ácaros, bactérias, e o bodum. Passar ferro também ajuda a reduzir a quantidade de bactérias. Colchas, cobertas e edredons podem ir para a máquina uma vez por mês já que não costumam entrar em contato direto com a pele. Vale a pena mudar travesseiros a cada dois anos para evitar fungos. E se você dorme com seu animal de estimação, mais um motivo para pôr a preguiça de lado e lavar tudo regularmente: os restos da sua pele podem provocar rinite nele.
Segundos de sabedoria
Não deixe para amanhã o que você pode procrastinar hoje.
Todas aquelas ladeiras de pedras escorregadias, escadas sem corrimão, e tão poucos elevadores… No entanto, Portugal tem uma das menores taxas de quedas registradas por 100 mil habitantes da Europa, segundo estudo de 2017.
Veja bem de perto: o primeiro 1% do atlas do universo em altíssima definição (208 gigapixels) compilado das imagens captadas pelo telescópio espacial Euclides. O projeto ambicioso da Agência Espacial Europeia vai levar 6 anos. Essas ampliações todas ajudarão os pesquisadores a decifrar a influência da matéria negra pelo universo afora.
Não é que eles não consigam enxergar a solução; é que eles não conseguem ver o problema.
G.K. Chesterton, em O Escândalo do Padre Brown (1935).
Eu sempre digo: é tão triste que Kurt Cobain tenha morrido cedo sem nunca ter visto o GPS.
Dame Helen Mirren, refletindo sobre as maravilhas da vida moderna e o vocalista do Nirvana, morto aos 27 anos em 1994.
Dizer, com Drummond, que a poesia é a vida passada a limpo é dizer que a vida — a vida do poeta — é o rascunho da poesia. Isso significa que o fim da vida do poeta é virar poesia.
Antonio Cícero, em Poesia e Filosofia (2012).