Os almanaques eram publicações anuais que traziam de tudo, das fases da lua até remédio para unha encravada. Isso aqui é uma versão em pílulas semanais: fatos e curiosidades que encontrei na internet e fora dela.
No dia 14 de outubro de 1912, o ex-presidente dos EUA Theodore Roosevelt foi baleado no peito praticamente à queima-roupa durante comício para reeleição em Milwaukee, Wisconsin. Salvaram-no dois itens que carregava no bolso do casaco: uma caixa de óculos de metal e o discurso de 50 páginas dobrado no meio, que impediram que a bala penetrasse a pleura. Roosevelt se recuperou para fazer o discurso e pedir que não linchassem o atirador. Para evitar riscos à sua vida, os médicos decidiram-se por não retirar a bala.
Perdeu as eleições para Woodrow Wilson.
Roosevelt quase morreria de novo no ano seguinte, durante uma expedição científica de cinco meses com Cândido Rondon na Amazônia brasileira.
Feito de coragem também foi registrado em fevereiro de 2024, em Uganda. Dois leões africanos atravessaram a nado cerca de um quilômetro do canal Kazinga, infestado de enormes crocodilos e hipopótamos. No Pantanal, é comum onças fazerem travessias longas n’água, mas o pequeno jacaré-do-pantanal é presa, não predador. É a primeira vez que um nado à longa distância do Panthera leo foi registrado em vídeo. Pesquisadores suspeitam que esse comportamento indique falta de leoas e escassez cada vez maior de alimentos na terra firme.
Foram 30 tentativas de assassinato contra Charles de Gaulle ao longo de sua vida. A mais séria se deu em 1962, quando era presidente da França. Um grupo de extrema-direita argelino, inconformado por ele ter concluído a independência da Argélia, atirou contra seu carro, o futurístico sedã Citröen DS 19, conhecido em Portugal como boca-de-sapo. Foram 187 balas e nenhuma atingiu De Gaulle, sua esposa, ou quem quer que estivesse no carro, graças também à habilidade do motorista. “Eram ruins de mira”, declarou o septuagenário De Gaulle.

Em 1901, Roosevelt chegava pela primeira vez à Casa Branca, sucedendo William McKinley, que fora o terceiro presidente do país a sair do cargo num caixão por causas violentas.
Na Bahia, costuma-se dizer das pessoas com ego inflado que estão se achando “a bala que matou Kennedy”, uma referência ao miraculoso projétil.
Tanto o candidato Donald Trump, em 2024, quanto Ronald Reagan, em 1981, foram alvo de atentados a bala. Os dois também foram, enquanto estiveram na cadeira presidencial, ferrenhos defensores de uma interpretação amalucada da Segunda Emenda da Constituição dos EUA que prevê o armamento quase indiscriminado do cidadão comum, com poucos freios. Ou seja, seus algozes se beneficiaram de suas políticas.
Reagan pensava um pouco diferente quando era governador da Califórnia. Em 1967, sancionara uma lei que proibia o porte de armas carregadas em lugares públicos, o Mulford Act. O motivo era bem específico (e racial): medo do grupo revolucionário negro Panteras Negras, que inspirou o apelido da legislação (Lei dos Panteras).
No clássico paranoico Sob o Domínio do Mal (John Frankenheimer, 1962), baseado no romance de Richard Condon, um herói de guerra (Laurence Harvey) sofre lavagem cerebral ao ser capturado na Coreia. De volta aos EUA, sua mãe (Angela Lansbury) o usa numa trama com os comunistas para assassinar o candidato presidencial do próprio partido e colocar em seu lugar seu marido (James Gregory), um conservador que espalha mentiras sobre a existência de comunistas nos órgãos do poder norte-americano. Eleito presidente, o senador instalaria um regime autoritário no país.
Em A Hora da Zona Morta (David Cronenberg, 1983), baseado no suspense de Stephen King, um homem que pode ver o futuro (Christopher Walken) atenta contra um candidato a presidente sociopata (Martin Sheen) para impedi-lo de começar a Terceira Guerra Mundial.

No Brasil, o imperador D. Pedro II e o presidente Prudente de Morais quase foram mortos a bala — por um republicano e um militar, respectivamente. Contra o general Costa e Silva, tentaram uma bomba. José Sarney quase teve um Boeing 737-300 jogado contra ele no Palácio do Planalto em 1988.
Em setembro de 2018, o candidato a presidente do Brasil Jair Messias Bolsonaro foi alvo de um atentado a faca por Adélio Bispo. Após anos de repetidas investigações, não se encontraram quaisquer evidências de complô. Bispo não passava de um homem cheio de som, fúria, e tormento — como a sua vítima.
Bolsonaro ganharia a eleição daquele ano.
John Flammang Schrank, o homem que tentou matar Teddy Roosevelt em 1912, contou que o fantasma do presidente McKinley lhe aparecia em sonho, tal qual o pai de Hamlet, acusando Roosevelt de ter tramado sua morte e pedindo vingança.
Após ser preso, Bispo reclamava de investidas satânicas no presídio de Campo Grande, que seria controlado pela maçonaria. A tentativa de matar Bolsonaro fora ordem divina para eliminar o “anticristo” que “aprecia e usa reciclado em tudo”. Ele também suspeitava dos haitianos, que roubariam os empregos dos brasileiros e teriam a ajuda de Lula.
Em 2023, o segundo colocado nas pesquisas para a corrida presidencial no Equador, Fernando Villavicencio, foi assassinado durante evento de campanha. A organização criminosa Los Lobos assumiu a autoria.
Apesar de tudo isso, venha para a América! O México é o campeão de turismo da América Latina, seguido da diminuta República Dominicana, que recebe mais turistas que a Argentina, que recebe mais turistas que o Brasil. A República Dominicana recebe atualmente 60% mais turistas que o Brasil.
À falta de uma frase de impacto de seu marido após o atentado de julho de 2024, a ex-primeira-dama dos EUA Melania Trump arriscou uma ela mesma: “Os ventos da mudança chegaram.”
Os ventos chegaram, mas não de mudança: de muco. A rechonchuda criatura marinha abaixo é o Chaetopterus pugaporcinus, carinhosamente apelidado verme-bunda-de-porco devido à sua inflada seção central, que lhe permite flutuar uns 800 metros abaixo da superfície do mar em sua fase larval. Foi descoberto em 2001 por uma equipe de biólogos da baía de Monterey, na Califórnia. Além de ser biofluorescente, emanando uma luz azul no escuro, o animalzinho de 2cm também expele por seu orifício um muco verde brilhante que se assemelha a uma flatulência luminosa e pode servir para afugentar predadores ou capturar alimento.
Mais detritos: o bodum das roupas usadas durante exercícios físicos é causado pelos restos corporais em contato com tecidos sintéticos. O problema é que a maioria das marcas de detergente e sabão não foi feita pensando nesses tipos de tecido e sim nos tradicionais, como algodão, mais fáceis de lavar e remover odor. Nos sintéticos, estes detergentes, com sua propaganda voltada só para a retirada de manchas, mascaram temporariamente a inhaca e o cecê com seu perfume de lavanda. Portanto, tire a roupa suja do corpo ou da sacola de ginástica — onde ela pode servir de moradia para mofo e fungo em poucas horas — logo que chegar em casa e coloque-a para secar ao vento antes de jogá-la no cesto de roupas sujas. E prefira lavar os sintéticos em água fria.
Separados na fabricação: o jornalista e comediante esportivo italiano Marco Violi, e o acusado de autor do tiro contra Donald Trump, o perigoso “antifascista” Mark Violet, segundo teoria conspiratória amplificada por uma apresentadora do canal jornalístico de extrema-direita OAN, dos EUA.


No período de ouro do cinema comercial italiano voltado para o mercado internacional, diretores e atores costumavam usar pseudônimos em inglês para passar uma ideia de produto feito em Hollywood. O astro do faroeste-espaguete Terence Hill era, na verdade, o veneziano Mario Girotti. O galã Luciano Stella virou Tony Kendall. Muitas vezes, essas eram imposições dos próprios produtores. Para o filme gótico O Chicote e o Corpo (1963), o produtor Luciano Martino pedira ao lendário diretor Mario Bava que assinasse sua obra com um “velho nome americano”. Bava, debochado, foi literal e o filme foi dirigido por um certo John M. Old (João M. Velho).
No Brasil da década de 70, artistas faziam sucesso cantando e se batizando em inglês. Antes de formar dupla sertaneja com Ralf, Chrystian (José Pereira da Silva Neto) chegou ao topo das paradas entoando Don’t Say Goodbye. O auge da tendência foi a ultrarromântica Feelings (1974), canção de Mauricio Alberto Kaisermann ou Morris Albert (e do francês Loulou Gasté, vencedor de um processo por plágio da melodia), que explodiu no mercado internacional.
O nigeriano Prince Nico Mbarga se foi há três décadas num acidente, como tantos artistas. Porém, era único: dono de um grande sucesso apenas, mas que sucesso! Lançada em 1975, Sweet Mother vendeu treze milhões de cópias só no continente africano, mais que a recordista I Wanna Hold Your Hand dos Beatles no mundo inteiro. Por esta perspectiva, o amor materno bateu o amor romântico.
O gênero de literatura romântica não é só um campeão de vendas perene. Tornou-se também tendência de sucesso no setor de livrarias nos EUA. Há até uma grande rede especializada no gênero.
Paletó de terno com etiqueta da marca do lado de fora da manga já foi considerado punk, rebelde, irônico, na época dos bailes de vogue. Hoje é absolutamente burguês. E cafona.
Hoje, o melhor vendedor do mundo é a inteligência artificial. Um chatbot como o ChatGPT pode não lhe dar a resposta correta, mas vai convencê-lo mais facilmente a aceitá-la. Isto se dá porque os modelos de linguagem largos são treinados nas técnicas de retórica e oratória mais persuasivas. Cuidado com a lábia deles.
É época de florada no Deserto do Atacama, um fenômeno que não acontece todo ano.
O futebol, como de costume, nos expressa e antecipa.
Nuno Ramos, ao relembrar os 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil na Copa de 2014 ante o que veio imediatamente antes e depois na política nacional.
Já foi dito que a História se repete. Talvez não seja exatamente assim; ela apenas rima.
O psicanalista Theodor Reik, em ensaio de 1965 sobre as vagas da História.
Está na cara que um monte de gente nunca viu um time desportivo que está prestes a demitir o seu técnico.
O jornalista Evan Scrimshaw, comentando sobre a pressão sofrida pelo octogenário presidente dos EUA para que desista de sua candidatura à reeleição.